ARTIGO: SEGREDO DE VIDA E DE MORTE

ARTIGO: SEGREDO DE VIDA E DE MORTE
Antônio Novais Torres

Por Antonio Novais Torres 


José, era um homem simples, viveu na zona rural, era muito trabalhador, habilidoso e  muito ativo, por suas qualidades enveredou-se no comércio de café, gado e outros produtos agrícolas. Mudou-se para a cidade, envolveu-se com política, foi vereador, fez muitos amigos entre os políticos, líderes do município e do estado, privando da amizade de muitos “figurões” enfim, era uma pessoa requisitada pelo prestígio dos votos. Casou-se e teve oito filhos, exatamente quatro casais, bom esposo e pai exemplar, tinha o respeito e a consideração da família.  Patriarca e conselheiro da prole e  de todos os parentes era uma pessoa respeitada por suas decisões corretas e sensatas, sua palavra era inquestionável. Nas festas de aniversário, casamento, batizado, em sua casa, era o patrono, como convém ao bom político, ficava no alpendre a receber os parentes e amigos, cumprimentava a todos e os encaminhava às filhas para as honras da casa, era o primeiro a abrir  e o último a encerrar a festa, assim lhe competia como anfitrião.

Por Antonio Novais Torres 


José, era um homem simples, viveu na zona rural, era muito trabalhador, habilidoso e  muito ativo, por suas qualidades enveredou-se no comércio de café, gado e outros produtos agrícolas. Mudou-se para a cidade, envolveu-se com política, foi vereador, fez muitos amigos entre os políticos, líderes do município e do estado, privando da amizade de muitos “figurões” enfim, era uma pessoa requisitada pelo prestígio dos votos.

 

Casou-se e teve oito filhos, exatamente quatro casais, bom esposo e pai exemplar, tinha o respeito e a consideração da família.  Patriarca e conselheiro da prole e  de todos os parentes era uma pessoa respeitada por suas decisões corretas e sensatas, sua palavra era inquestionável.

 

Nas festas de aniversário, casamento, batizado, em sua casa, era o patrono, como convém ao bom político, ficava no alpendre a receber os parentes e amigos, cumprimentava a todos e os encaminhava às filhas para as honras da casa, era o primeiro a abrir  e o último a encerrar a festa, assim lhe competia como anfitrião.

 

Os filhos foram crescendo,  casando-se, e a prole aumentando, sua esposa, dona Joana, era das prendas domésticas, simples, humilde, muito religiosa, cuidava dos filhos com extremada dedicação e zelo igualmente tratamento dispensava aos netos. Ao marido obedecia cegamente, tinha nele o protótipo de homem exemplar: bom pai, esposo fiel e cumpridor dos deveres e obrigações conjugais. Os  familiares, não tinha do que se queixar. Dizia para as amigas, igual a José está para nascer, ele foi o presente que Deus me  deu.

 

A vida se encarrega, às vezes, de pregar surpresas desagradáveis. Diz a sabedoria popular: “O destino é incerto e o futuro a Deus pertence”, uma verdade insofismável. José, com o passar do tempo, foi perdendo o prestígio político e em consequência, também os amigos, especialmente os oportunistas. A idade, já avançada, o prestígio em decadência, tornou-se um homem recluso ao ambiente familiar, dedicando-se exclusivamente ao carinho dos netos.

 

Via os netos com olhos diferentes dos que via os filhos, aos a que  não teve o tempo necessário para dedicar maior atenção, por conta da vida atribulada de político, sempre em reuniões, em encontros, e nos bate-papos das festas para as quais era convidado. Antes, o comportamento dos meninos era visto como peraltice, travessuras, falta de educação etc., agora, com idade provecta, o conceito era de que menino que não é ativo é doente e todo tipo de extravasamento dos netos não tinha censura, era motivo de hilaridade, achava tratar-se de inteligência, de sabedoria, de vigor e impetuosidade, segundo suas explicações.

 

Ocorre que José teve um caso amoroso, oculto sob “sete capas”, pouca gente sabia desse seu affaire, a família então, nem imaginava que tal ocorrência fosse possível. Entretanto, a idade provecta deixava-o bastante preocupado quanto ao futuro da segunda família. Em suas lucubrações, pedia a Deus para lhe dar uma solução, lhe indicar um caminho para resolver tamanho problema, não queria desapontar a esposa nem decepcionar os filhos.

 

Um dia, veio-lhe uma visão de que deveria procurar a filha mais velha, por nome Berenice, segundo a visão, a única a solucionar o problema. A princípio, ficou indeciso, depois criou coragem e chamou a filha para uma conversa reservada e  confidenciou-lhe:  “Berenice, preciso lhe contar um segredo de vida e de morte, entretanto, só lhe relatarei este segredo depois de ouvir de sua boca o juramento de não  o revelar a ninguém, nem a sua mãe, nem aos irmãos, a nenhuma outra pessoa.” Berenice ficou assustada e perplexa, porém, diante do pedido do pai, prestou-lhe juramento em nome de Deus e de todos os santos, levar o segredo consigo para o túmulo.

 

“Pode contar, pai, estou a lhe escutar”, e o velho, cheio de dedos, passou a dizer-lhe de  uma amante com quem tinha filhos e, sentindo que estava prestes a morrer, pela idade avançada e a doença de que era portador, estava preocupado com a outra família. Pedia-lhe então que não a  deixasse passar nenhuma  necessidade. Estupefata, sem querer acreditar, perguntou-lhe: “pai, o senhor está caducando?”.

 

“Não, minha filha, é a pura verdade, que tem me atormentado todos estes anos, e não tive a coragem de assumir, o faço agora, para descarrego de consciência, não quero deixá-los na indigência, não são culpados da minha irresponsabilidade”.

 

A filha, ainda indignada, “o senhor teve a coragem de enganar a mamãe e a todos nós?”, José, aos prantos, segurando as mãos da filha, pediu-lhe perdão e que ela não fugisse ao compromisso assumido. “Pode ficar tranquilo, o meu juramento será mantido, ainda que surpresa e decepcionada com esta revelação, pois nunca o julguei capaz desta traição; aliás, esse deve ser o pensamento de toda a família que o considerava um homem exemplar, de moral irrepreensível”.

 

Dias depois, José parte para outra dimensão universal, mas com a compreensão de que agira de acordo com a sua consciência, se foi ou não correta a sua atitude não nos cabe julgá-lo, fica a cada um a reflexão do julgamento.

 

Esta é uma peça de ficção, qualquer semelhança com caso real é mera coincidência.

 

Antonio Novais Torres
[email protected]
Brumado/BA em 30/05/2002.


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