Agora Sudoeste

O Café com o Brumado Agora entrevista Zilda Neves



Nascida em 7 de agosto de 1923, na Fazenda Casa Nova, a brumadense Zilda Lima Neves sempre sonhou em ser professora, embalando seus sonhos infantis meio a livros e jornais, mesmo sem saber ler. Filha de Cecília de Lima Santos e Fidelcino Augusto dos Santos, casou-se em 7 de agosto de 1946 com o saudoso Artur Alves Neves, com o qual não teve filhos naturais, mas o coração lhes deu Alexandre, que ainda não constituiu família e não possui filhos. A história desta mulher guerreira, que enfrentou todos os desafios da época para torna-se professora, será contada na entrevista de hoje do Café com o Brumado Agora realizada nas dependências da  Padaria Pérola. Confira.


 


Café com o Brumado Agora – Conte um pouco sobre o início da trajetória para tornar-se professora.


Zilda Neves  -  Sou filha de Brumado, nasci na antiga Praça Duque de Caxias, hoje conhecida por todos como Dr. Mário Meira. Comecei a estudar com oito anos de idade, em Caetité. Minha mãe me contava que quando pequena eu pedia livros, chorava pedindo gazetas (jornais) e ficava sentadinha no chão simulando que estava lendo. Desde muito criança, eu tinha paixão por todo este mundo da escrita e leitura, mesmo sem nunca ter estudado. Bem, em Caetité, morei um tempo na casa de um casal sem filhos e lembro com muita alegria da minha primeira professora, Judite Pereira Cunha. Tempos depois adoeci, e por determinação do médico tive que ficar dois anos afastada da escola. Para mim foi a maior tristeza, mas eu corria o risco de ficar raquítica e tinha uma dieta muito rigorosa, que inclusive me dava vertigens, o que me impossibilitava estar fora estudando e fazendo algumas atividades. Retornei aos estudos depois com aulas particulares com o professor Santana e continuei os estudos. Bem, tempos depois fui avançando nos níveis escolares e comecei a fazer o curso de Admissão, que equivale hoje ao nível médio, que depois me daria a possibilidade de lecionar. Dediquei-me muito aos estudos, era muito determinada. No entanto, por motivos outros meu pai não me deixou concluir o curso de Admissão, e voltei para Brumado. Só conclui o curso  depois de casada, no período em que morei em Caculé com meu esposo, por 13 anos, com a ajuda do Diretor da instituição que enviou a minha documentação para a secretaria de Educação e organizou tudo para que eu retornasse. Fiz todo o curso pedagógico, com 16 matérias, costumo dizer que pela rigidez da época e pelas matérias que eu tinha que envolviam até mesmo direito, economia, álgebra, aritmética, equivale hoje a um curso universitário. Depois deste período fui nomeada interinamente e lecionei 6 meses em Caetité, tempo depois, vim definitivamente para Brumado.


Café com o Brumado Agora – A senhora é conhecida em Brumado pela paixão pela profissão de professora e por ser uma das primeiras a lecionar na cidade. Quais atividades foram exercidas pela senhora?


Zilda NevesComo disse a querida Helena Lima Santos: Celina Mafra, Maria Iranilde, Mirian Santos Azevedo e eu fomos as primeiras filhas de Brumado a serem professoras, fizemos juntas os curso de Admissão. Voltei a morar em Brumado, com muita alegria, porque era uma vontade minha, em 1961, porque meu esposo veio trabalhar na Magnesita, e comecei a lecionar aqui neste período. Inicialmente, lecionei por um ano em uma escola pública no bairro São Félix, substituindo uma professora que estava doente. Algum tempo depois, minha sobrinha Nilza pediu para ver minhas qualificações em Didática e assim passei a dar aulas da matéria e mais metodologia no colégio Monsenhor Fagundes. Além disso, lecionei na Escola Normal e ainda no curso primário do General Nelson de Melo. Fui vice-diretora da Escola Juracy Pires Gomes, onde ainda lecionei a noite no supletivo. Digo ainda, com muita alegria, que fiz parte do corpo docente do Colégio Estadual por 30 anos. Fui convidada, ainda, na gestão de Agamenon, para trabalhar na Prefeitura e fazer parte da coordenação do ensino primário das escolas municipais. Para mim este período foi maravilhoso, me realizei como professora era o que sempre sonhei em fazer e fazia com muita alegria. Sempre buscava me atualizar, fazia cursos presenciais e por correspondências para sempre fazer o melhor para os meus alunos.




Café com o Brumado Agora – Quais as principais dificuldades em lecionar neste período?


Zilda Neves - Posso dizer com propriedade que todas as dificuldades foram superadas pelo amor a profissão. Quando se ama o que faz, as dificuldades, por maiores que sejam, são contornadas. Sempre procurei fazer o melhor enquanto professora, me diziam que eu era muito maternal, e era sim desta forma, sempre tive um carinho especial pelos meus alunos, gostava de ver como eles progrediam como se interessavam pelos estudos. Lembro-me de alguns alunos como a Ritinha, filha de Rubeni e Joaquim Machado, hoje bioquímica, sempre muito aplicada, como também de George de Dioníso, muito interessado e sempre atento as aulas. Lembro um momento específico, que não chegou a ser uma dificuldade, mas mudança de setor, quando por estresse, tive que ser afastada da sala de aula por dois anos. O problema foi pela carga de atividades. Assim, fui trabalhar no supletivo, apenas registrando os candidatos e enviando os certificados de quem havia terminado o curso para a Secretaria de Educação.


Café com o Brumado Agora – Além de lecionar, o que mais a senhora gostava de fazer em Brumado? Como era a vida social da senhora?


Zilda Neves – Lembro com muita saudade de quando era jovem. Em compania de outras moças, como exemplo, Liah Cardoso, Lucy Caires, Celita Brito e Mirian Azevedo, saia para passear pela cidade, sempre gostávamos de ir dançar. Estas noites dançantes aconteciam na Casa de Raimundo Carvalho, Agnelo Azevedo ou Paulo da Magnesita. Tudo com muito respeito, sem maldade alguma e sem bebidas alcoólicas. Reuníamos-nos das 20 às 22 horas, no máximo, e nós [as mulheres], nos encarregávamos de providenciar o cantor e os homens vaziam a “vaquinha” para pagar [risos]. Dos rapazes que participavam lembro-me de Santos Meira e Lindolfo Azevedo.




Café com o Brumado Agora – Qual a maior saudade da senhora?


Zilda NevesA forma como conheci meu esposo Artur. Dona Dezinha era festeira da extinta festa de Santa Terezinha, que era realizada no dia 3 de outubro, e tinha uma barraquinha de comes e bebes. Fiquei com uma amiga chamada Delciana nesta barraca, e Artur se sentou-se à mesa para comer. Enquanto isso, Liah [outra amiga] e eu, fomos aos arredores convidando as pessoas para virem comer na barraca. Então, Artur pagou a conta e continuo próximo barraca. Minhas amigas começaram a dizer que ele estava me olhando muito, eu não dei importância alguma [risos]. Demorei oito meses para dar a ele o “Sim” do namoro. Depois disso, com oito dias de namoro ele me pediu em casamento e três meses depois já estávamos casados. Anos depois ele veio a adoecer e faleceu no Hospital São Vicente, em Vitória da Conquista, no mesmo dia em que comemoramos 49 anos de casados.


Café com o Brumado Agora – A senhora gostaria de deixar alguma mensagem?


Zilda Neves – Quero pedir aos jovens que aproveitem as oportunidades da vida com coisas boas e úteis. Que deem prioridade ao estudo, pois só o conhecimento e a moral nos levam o indivíduo a diante.


Fotos: Wilker Porto, Produção: Genival Moura e Reportagem: Janine Andrade.


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